segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Para Sempre


Ela caminhava decidida, enquanto a barra do seu vestido branco arrastava pelo chão lamacento. Durante a noite passada havia chovido muito. Mas pouco lhe importava a sujeira, ou o céu coberto de nuvens cinza. Nada mais lhe importava se não o desejo de encontra-lo e a necessidade de cumprir a sua promessa. E ela cumpriria custasse o que custasse. Mas antes que eu lhes mostre o que está por vir, talvez eu deva mostrar alguns fatos importantes para que vocês entendam o que a levou a chegar até aqui. 


Era uma vez...

Numa época em que a nobreza significava poder, um Marquês que morava numa mansão digna de um rei. Ele acumulou muitas riquezas e era respeitado por todos, inclusive pela família real. Depois da aquisição de algumas terras na província do sul, ele resolveu dar um grande baile para comemorar e quem sabe assim conseguir um noivo para a sua única filha, Isabel, que ainda não havia sido compromissada com ninguém. 

Isabel era uma jovem muito linda, talvez a mais bela do reino. Sua pele era tão branca quanto as porcelanas de sua mãe. Seu longo cabelo caía como uma cascata até a cintura. Seus olhos cinza tinham aquele ar de mistério das manhãs de neblina. E seus carnudos lábios rosa eram os mais perfeitos que já foram vistos em todo o reino. Nessa noite ela pusera um lindo vestido turquesa com uma saia rodada farta em camada de seda e véu. Por cima um corselet cinza com pedras de brilhante rosa espalhados por toda a cintura. 

 Depois de alguns minutos no baile, seguindo as ordens da sua mãe que a mandou desfilar toda sua beleza para que as demais jovens a invejassem e cavalheiros a desejassem, ela resolveu tirar um tempo para si mesma. Então saiu para tomar um vento, sentir a brisa da noite encher seus pulmões. O jardim estava quase vazio, apenas algumas meninas brincavam desfilando seus vestidinhos como se fossem princesas em miniatura. Ela procurou um banco que ficava perto das roseiras e lá se sentou olhando as rosas tão perfeitas, que fariam inveja a qualquer outra flor. 

De repente Isabel sentiu-se como se estivesse sendo observada. Ela procurou ao seu redor e foi aí que ela o viu pela primeira vez. Encostado na janela do salão de baile. Ele era alto e seus cabelos loiros caíam sobre os seus olhos, aos quais ela não conseguia ver direito devido a distância. Ele tinha a pele tão clara quanto a sua. Isabel sentiu seu coração errar um compasso.

 Esse jovem era Henrique, um nobre cavalheiro filho mais novo de um duque que lutou durante muito tempo ao lado do rei e que agora largava a batalhas para dedicar-se as suas terras. Henrique era tão valente quanto o pai e desejava ser igual a ele. Um guerreiro forte e indestrutível. O amor nunca havia tocado o seu coração, não até aquele momento. Observando a jovem que apreciava as roseiras ele sentiu seu coração disparar. Ela é tão bela que a lua deve sentir inveja, pensou. 

  Isabel não sabia o que estava sentindo. Mas o mundo parecia ter deixado de existir no momento em que ela viu aquele rapaz contempla-la à distância. E seus olhos pareciam ter tomado as rédeas por contra própria e não queriam para de retribuir o olhar dele. Num momento de consciência ela levantou-se e entrou procurando ficar longe da janela em que o tinha visto. Quem é ele? Pensou. 

 Ela rodou o baile por um breve momento até que sentiu alguém puxar a sua mão. Quando olhou para ver, ela pensou ter esquecido como se respira ao encontrar os olhos do seu observador tão azuis, quanto o céu durante o verão. 

– Permita-me a honra de uma dança? – perguntou Henrique com a voz aveludada e educada.

Isabel não conseguiu negar, mas também não disse nada. Apenas deixou que ele a conduzisse. Enquanto valsavam pelo salão, o mundo pareceu deixar de existir. O chão não sumiu sob os seus pés, eles flutuavam como se estivessem voando pelo vazio. E de repente, só havia uma certeza para ambos, eles não queriam que esse momento acabasse. Ele merecia ser eterno. 

– Posso saber a sua graça? – perguntou Henrique.
– Me chamo Isabel, sou a filha do Marquês que está dando este baile. E você?
– Sou Henrique, filho mais novo do Duque Augusto.

Ela imediatamente lembrou-se do nome. E uma comoção lhe encheu o peito.
– É filho do grande Duque Augusto, guerreiro do rei Afonso? – Ela abriu um lago sorriso – Ouvi muitas das histórias do seu pai. Meu pai é um grande admirador dele. Para ele só há um homem que mereça respeito igualmente ao rei. E este é seu pai.
– Não sabes o quanto fico feliz em saber disso. Isso tranquiliza meu coração.

Outra vez o coração de Isabel perdeu uma batida. O que ele quer dizer com isso?  Mas enquanto um forte desejo crescia em seu peito ela ouviu a voz da criada chamar por ela, e parte do encanto fugiu do ambiente.
– Minha senhora, vossos pais estão te procurando. 

Ela olhou para Henrique e seu coração apertou ao saber que o deixaria. Mas ela não precisou dizer nada. Ele a olhou com aqueles olhos profundos e disse que fosse.
– Nos veremos outra vez? – Ela perguntou
– Se assim deseja. Virei vê-la. Sempre. – ele despediu-se beijando a mão dela e depois saiu sumindo entre as pessoas que nem notaram o amor que havia surgido naqueles dois corações.

Passaram-se semanas depois do baile, e nos corações de Henrique e Isabel crescia o sentimento que urgiu naquela noite. Assim como a vontade de se reencontrarem. E esse seria saciado hoje, pois o Marquês havia anunciado mais cedo um jantar especial para alguns amigos. Ele iria fazer um anúncio muito importante. A Marquesa disse à filha que vestisse o vestido mais bonito que tivesse. Pusesse a essência mais perfumada. Ela deveria estar mais bonita do que na noite do baile. E Assim Isabel fez, mas não em atenção ao pedido da mãe, e sim por querer estar linda para um convidado em especial.

Quando ela desceu para o salão foi surpreendida por uma voz que ela conheceria até debaixo d’água.
– Continua tão linda quanto as estrelas. Tão perfumada quanto as rosas, e tão delicada quanto a seda. – indagou Henrique.
– Obrigada. Mas são teus olhos que enriquecem a minha beleza.
– Eles não têm tamanho poder. E sem poder admirar a tua beleza eu preferiria ser cego – ele respondeu enquanto inclinava-se para beijar a mão de Isabel.
– É um mentiroso, há muitas jovens belas a quem se admirar pelo reino, deve dizer isso a todas.
– Não há ninguém além de ti, minha marquesa.

Ele a olhou e como no baile o mundo inteiro sumiu ao seu redor. Ele a puxou para um canto embaixo as escadas onde ninguém que passasse os visse. E o ar que existia entre eles foi desaparecendo. Seus olhos se encontraram e neles suas almas se reconheceram. Eles se amavam, e isso era o que bastava pra que eles entregassem seus corações. Tão próximos, o espaço entre eles foi desaparecendo e num segundo seus lábios se tocaram. Tão perfeitos um para outro. O beijo foi tão breve quanto suave e quando terminou, não havia dúvidas de que seria assim para sempre.

– Soube que seu pai fará um anúncio durante o jantar – Henrique falou
– Eu sei, mas nem ele nem mamãe me disseram o que se trata. – ela disse enquanto se afastavam um pouco. Só o suficiente para que eles pudessem se olhar.
– Vou pedir a sua mão, logo após o anúncio. E se seu pai gosta tanto de meu pai, tenho certeza que não me negará esse pedido – ele disse confiante.
– E nós seremos felizes para sempre – Isabel disse sem nem pensar, apenas porque era isso a verdade. Enquanto estivesse com ele seria a mulher mais feliz do mundo. E ninguém iria destruir isso.

Durante a espera pelo jantar, Isabel não conseguia conter a ansiedade. Seus pensamentos  giravam em torno de como seria seu futuro ao lado de Henrique. Eles trocaram olhares discretos e apaixonados por quase todo o tempo. Quando todos se dirigiram ao jantar, o pai de Isabel pediu a palavra e foi assim que o rumo dos planos dos dois mudou.
Continua...

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