quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Para Sempre - Parte 3



O silêncio que se seguiu não durou mais que um segundo, mas para Isabel foi uma eternidade. Foi como se alguém tivesse parado o tempo e congelado ela naquele momento. Dois tiros, os dois haviam sido acertados. Isso bastou para que ela corresse em direção a Henrique. Ouviu um grito agudo vindo de Arthur, mas ignorou. Apena seguiu em direção ao seu amado rezando para que tivesse sido grave. Chegando a ele o viu ensanguentado. Seu peito estava vermelho e brilhante e seus olhos brilhavam em lágrimas.
– Oh meu Deus! Henrique, fale comigo. Diga que está bem, meu amor – disse Isabel jogando-se no chão ao seu lado, envolvendo-o em seu abraço – Por favor, fale comigo.
Henrique a olhou com seus olhos azuis, como o céu havia sido um dia. Lágrimas começaram o escorrer como as águas dos rios quando chegam a uma queda d'agua.
– Isabel – ele sussurrou – Me perdoe... Eu tentei... Mas não... Consegui.
– Não fala nada. Eu vou cuidar de você – Isabel beijou-lhe os lábios – sentindo o sabor salgado que vinha deles – Você vai ficar bem. Você o acertou...
– Não... tão rápido... Quanto... Ele – Henrique tentou tocar o rosto dela, mas não conseguiu sem a sua ajuda – Prometa-me... Que vai se cuidar... E que não me esquecerá.
– Sempre. Eu sou tua, lembra? – Ela chorou mais – Seremos felizes para sempre.
– Seremos...
– Não fale nada. Deixe-me ver isso aqui...
– Não dá... tempo. Eu não... tenho... tempo.

– Não faz isso comigo. Não me deixe aqui sozinha – Isabel o segurou em seus pequenos braços com toda a força que tinha.
– Eu... te... amo... Isabel
– Eu te amo. Fica comigo, não morra.
– Eu...
Os olhos de Henrique pararam-nos de Isabel uma última vez. E ali ficaram. Como quem compadeceu com a dor dela, o céu fechou-se em nuvens e uma chuva se iniciou. Primeiro fraco, depois ficando mais forte. E Isabel permaneceu ali chorando com as nuvens, tentando não explodir de dor. Sentindo seu peito fragmentar-se como um vaso que cai ao chão. Tentando conter o sangramento em seu coração. Foi sua mãe que a tirou de lá. Ela não tinha forças para lutar, nem para segurar-se ao corpo de Henrique. Ela havia se despedaçado por inteira. Mais tarde ela soube que o tiro de Henrique havia acertado a coxa de Arthur  causando um grande estrago que não possibilitaria uma noite nupcial tão cedo. Por isso eles adiariam o casamento por algumas semanas. Mas ela também não tinha força para lutar contra isso. Ela só conseguia chorar e chorar. Nada mais.
As semanas passaram para ela como se fossem atemporais. Não havia sido rápido, nem longo. Só tinham passado inviáveis a ela. Ela remoeu a dor da perda do único homem que amara em sua vida por dias e noites inteiras. Lembrando os beijos, os abraços, a pele macia. Lembrando-se de uma felicidade que parecia nunca ter lhe pertencido. A saudade foi tomando conta dela, sufocando-a e consumindo-a coo a chama de uma vela. Ela não se alimentava direito, não saía do quarto e não falava com ninguém. Colocaram-lhe joias, preparando-a coo se fosse uma ranha. Mas ela não sentia assim, não longe de Henrique.
O dia de seu casamento chegou e ela não sentia nada, estava vazia. Como um rio que secara depois de ter trazido vida e alegra a todos. Ela vestiu o vestido como se vestisse uma mortalha. Não sentiu o aroma de campo com o qual a perfumavam.
Enquanto ficou sozinha no quarto imenso que nunca seria seu sentiu a cabeça girar, e na sua mente veio uma imagem do seu amado. Vivo, sorrindo-lhe como fizera no seu primeiro encontro. Ela não ponderou nem um segundo e saiu do quarto caminhando determinada na sua fraqueza.
É assim que voltamos para o ponto de partida da nossa história. Ela escondeu-se nas sombras e caminhou durante um tempo até chegar onde ela queria. Um monte de pedras empilhadas e uma cruz sobre o topo delas. Isabel ajoelhou-se diante do túmulo e levantou as mãos aos seios ofegantes.
– Meu Deus! Por que fizeste isso conosco? Tomou o destino de nossas mãos e jogou-lhe ao vento para que não conseguíssemos alcança-lo. Não suporto mais respirar sendo um zumbi. Não posso ser feliz sem ele. Sem o meu único e verdadeiro amor. Permita-me que o encontre! Abrevias esse sofrimento, sara esta dor, tire-me esse peso das costas. Eu preciso me sentir inteira novamente.
Ela chorou por horas. Suas lágrimas lavavam o túmulo de Henrique até que elas secaram. Ela deitou-se, sua mão sobre o coração. Enquanto ele batia buscando se libertar. Enquanto ele foi se acalmando e respirando a liberdade que chegara. Ela fechou os olhos e dormiu como fizera todas as noites, mas com algo diferente. Um sentimento que ela nunca sentira antes. Caiu num sono profundo e calmo.
Algum tempo depois, ela sentiu um toque em seu pulso. Uma mão suave e familiar. Ela não precisava abrir os olhos para ver quem era.
– Senti sua falta - ela disse ainda de olhos fechados.
– Eu também.
Ela abriu os olhos e viu Henrique parado ao seu lado. Não como quando o havia visto pela última vez. Ele estava bem. Como no dia em que o viu na janela do baile. Ele sorriu e confortando enquanto ela levantava-se.
– Permita-me a honra de mais essa dança, minha senhora – Perguntou Henrique com falsa cordialidade.
– Claro que sim, meu duque - Ela disse abraçando a sua imortalidade.
Ele passou a mão em sua cintura e pegou a sua pequenina mão com delicadeza. Ela o envolveu o ombro dele com seu braço livre e os dois saíram valsando pelo céu a caminho das estrelas. Eles estavam juntos e agora seria para sempre. Sem ninguém para impedir a sua felicidade.
  

FIM

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